Revolução Constitucionalista – 9 de
julho de 1932
Momento
histórico da vida nacional, quando os paulistas lideraram a luta por valores
nobres, ante ao prenúncio do desordenamento constitucional, sendo que o Poeta
Guilherme de Almeida, natural de Campinas se engajou no movimento, deixando este
significativo texto para reflexão das futuras gerações.
Ela foi inserida no livro Tributo A Um
Herói, porque consta dos documentos com que a família foi agraciada, quando
da morte do Tenente PM Alberto Mendes Junior. O livro está a venda em todo Brasil nas livrarias:
Asabesa; Cultura e Martins Fontes
Oração ante a última trincheira *
(Poesia
de Guilherme de Almeida)
Agora
é o silêncio...
É o
silêncio que faz a última chamada...
É o
silêncio que responde:
—
"Presente!"
Depois
será a grande asa tutelar de São Paulo,
asa
que é dia, e noite, e sangue, e estrela, e mapa
descendo
petrificada sobre um sono que é vigília.
E
aqui ficareis Heróis-Mártires, plantados,
firmes
para sempre neste santificado torrão de
chão
paulista.
Para
receber-vos feriu-se ele da máxima
de
entre as únicas feridas na terra,
que
nunca se cicatrizam,
porque
delas uma imensa coisa emerge
e se
impõe que as eterniza.
Só
para o alicerce, a lavra, a sepultura e a trincheira
se
tem o direito de ferir a terra.
E
mais legítima que a ferida do alicerce,
que
se eterniza na casa
a
dar teto para o amor, a família, a honra, a paz.
Mais
legítima que a ferida da lavra,
que
se eterniza na árvore
a
dar lenho para o leito, a mesa, o cabo da enxada,
a
coronha do fuzil.
Mais
legítima que a ferida da sepultura,
que
se eterniza no mármore
a
dar imagem para a saudade, o consolo, a benção,
a
inspiração.
Mais
legítima que essas feridas
é a
ferida da trincheira,
que
se eterniza na Pátria
a
dar a pura razão de ser da casa, da árvore
e do
mármore.
Este
cavado trapo de terra,
corpo
místico de São Paulo,
em
que ora existis consubstanciados,
mais
que corte de alicerce, sulco de lavra,
cova
de sepultura,
é
rasgão de trincheira.
E
esta perene que povoais é a nossa última trincheira.
Esta
é a trincheira que não se rendeu:
a
que deu à terra o seu suor,
a
que deu à terra a sua lágrima,
a
que deu à terra o seu sangue!
Esta
é a trincheira que não se rendeu:
a
que é nossa bandeira gravada no chão,
pelo
branco do nosso Ideal,
pelo
negro do nosso Luto,
pelo
vermelho do nosso Coração.
Esta
é a trincheira que não se rendeu:
a
que atenta nos vigia,
a
que invicta nos defende,
a
que eterna nos glorifica!
Esta
é a trincheira que não se rendeu:
a
que não transigiu,
a
que não esqueceu,
a
que não perdoou!
Esta
é a trincheira que não se rendeu:
aqui
a vossa presença, que é relíquia,
transfigura
e consagra num altar
para
o vôo até Deus da nossa fé!
E
pois, ante este altar,
alma
de joelho à vós rogamos:
—
Soldados santos de 32,
sem
armas em vossos ombros, velai por nós!;
sem
balas na cartucheira, velai por nós!;
sem
pão em vosso bornal, velai por nós!;
sem
água em vosso cantil, velai por nós!;
sem
galões de ouro no braço, velai por nós!;
sem
medalhas sobre o cáqui, velai por nós!;
sem
mancha no pensamento, velai por nós!;
sem
medo no coração, velai por nós!;
sem
sangue já pelas veias, velai por nós!;
sem
lágrimas ainda nos olhos, velai por nós!;
sem
sopro mais entre os lábios, velai por nós!;
sem
nada a não ser vós mesmos, velai por nós!;
sem
nada senão São Paulo, velai por nós!
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