Artigo publicado no jornal "O Regional", de minha autoria.
Ainda os ossos, porque
não as sacolas
Com
a chamada “Regime Militar – Soldados indicam localização de corpos”, tem-se
como manchete da página Brasil, A6, edição de 1º. de março de 2004 do jornal a
Folha de São Paulo: - Especialistas darão início à busca por ossada de
guerrilheiros do Araguaia.
Para
reavivar a memória, com a revolução democrática deflagrada em 31 de março de
1964 para alguns, e golpe para outros, seguem-se atos anti-regime, com
conseqüente exílio de muitos e recrudescimento dos movimentos de esquerda,
tendo como ápice o estudantil em 1968.
As
frentes que organizaram a resistência, após diversas incursões que resultaram
em seqüestros de dignatários e assaltos a bancos para auto-sustentação das
ações, com o sacrifício de sentinelas às portas dos quartéis e também com o
sacrifício de civis indefesos às portas de bancos vitimados em ações terroristas,
decidiram homiziar-se no campo com o firme propósito de, através da guerrilha
rural, desestabilizar o governo. Dos campos se destacaram: Registro e Araguaia.
O
vale do Ribeira do Iguape, tendo como cidades Registro, Sete Barras, São Miguel
Arcanjo e Jacupiranga, dentre outras, era e ainda é uma região muito carente,
onde os terroristas encontraram terreno fértil para jogar suas catilinárias
anti-poder.
Certo
é que por volta das 21h de 08 de maio de 1970, uma sexta-feira, antevéspera do Dia
das Mães, Carlos Lamarca, o mais temido dentre os terroristas, ao lado de uma
sacola de dinheiro, conclamava, em extremo delírio de vitória, os rendidos policiais
militares “a subir a montanha com ele”.
Dois
dias depois, de forma vil, sem complacência, sacrificava um deles, indefeso e
desarmado. Dois anos mais tarde ele mesmo era morto em solo baiano.
Do
que se passou no Araguaia, a imprensa, ao longo do tempo, já esmiuçou, com
versões de ambas as partes.
Como
participante do embate de Registro e componente de guarnição de repressão a
assaltos a bancos praticados pelos terroristas pela região bancária dos bairros
do Bom Retiro, Lapa e Pinheiros, na capital, tudo que se escreve sobre o tema
aqui ou acolá, desperta meu sentimento de defensor das instituições com o alto risco da própria vida.
Após
tantos anos, arrefecidos os ânimos, houve a anistia, com o regresso dos exilados,
porém a refrega parece não ter fim. Fomenta as injustas indenizações, pensões
concedidas a militantes e a obstinada procura dos ossos, cujo objetivo maior é
posar de vítimas daqueles que, poupados, hoje
ostentam cargos de mando.
Não
era apenas simbólica a sacola de dinheiro ao lado do terrorista; decorria de
sangue de inocentes. Não foi por acaso que escolheu áreas pobres de população
sofrida, nelas as sacolas de dinheiro rendem mais, alicia-se mais numerosamente
“companheiros”.
Há
que saber, por meio de CPIs, a quantidade de sacolas de dinheiro que rendeu o “Esquema
do Bingo”, conhecido também como o “Caso Waldomiro”.
Necessário
avisar aos “sagrados” membros dos organismos defensores dos Direitos Humanos,
de todos os espectros sociais deste país, que os valores maiores de uma nação e
suas lideranças positivas não se dizimam só pelas armas; também o faz e muito
mais facilmente pelo aliciamento vil dos desvalidos e fracos de caráter com
sacolas de dinheiro; com a derrocada dos valores morais e do civismo; pela
liberalidade desenfreada dos usos e costumes; pela libertinagem
institucionalizada; e outras mazelas consentidas nestes últimos vinte anos.
Meu
profundo respeito àqueles que se foram em nome da causa, muitos inocentemente,
levados pelo engodo de quem detinha a sacola, já àquela época.
Se é para ir atrás dos ossos, que se vá
também atrás daqueles que, indefesos, tombaram pela ação dos terroristas.
A
propósito, a matéria da Folha registra o repúdio dos familiares à iniciativa do
governo quanto à criação da comissão responsável pela procura dos corpos.
De
minha parte estou consciente que à verdadeira e enigmática montanha sobem: os
puros de coração; os que praticam a bondade; os que honram a pátria e seus
valores maiores; os que honram pai e mãe; os que não matam; os que amam
verdadeiramente.
Catanduva,
10 de março de 2004
José Carlos Xavier
José Carlos Xavier
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