Na Trincheira do Poeta

Na Trincheira do Poeta

domingo, 11 de dezembro de 2016

Em Brasilia, enquanto estudante!

Estudam meninos, têm que fazer carreira.  

Lembro-me dele sempre: alto, forte que em postura de  irmão mais velho, perguntou-me, não vai estudar recruta?

Os componentes da Polícia Militar do Distrito Federal, recém constituída   eram oriundos do Rio de Janeiro. As praças, graduados e soldados tinham muitas chances de progressão na carreira, entretanto algumas se viam tolhidas por não dispor do estudo compatível ao exigido no concurso.
Elas nos incentivavam  a estudar e veementemente diziam  -  estudam meninos, têm que fazer carreira.  O ambiente externo era também estimulador, uma vez que dispondo de poucas opções de  lazer, enquanto na escola, principalmente o período noturno era propício ao encontro de pessoas de todas as idades que interagiam, através do propósito de progredir na vida.
Acontece que ficamos a espera  dos concursados locais e por isso não recebemos pagamento durante três meses. Nós alimentávamos e dormíamos no quartel, então não nos preocupávamos.  Certa manhã cavava, juntamente com o Cabo Geraldo um terreno para uma capela. Lembro-me dele sempre: alto, forte que em postura de  irmão mais velho, perguntou-me, não vai estudar recruta?
Disse-lhe, a vontade é muita, já fui ver  a vaga, mas não estamos recebendo. Ele incontinenti quis saber o valor. Uma vez informado, disponibilizou a quantia sem  contrapartida que não fosse o pagamento quando recebesse.  Fiquei contente, sendo que no outro dia estava estudando, na Escola Madureza Metropolitana de Taguatinga.
Ocorreu fato  que mostra muito bem o ânimo  entre os brasilienses de estudar. Ao meu lado sentava uma senhorinha de seus cinquenta anos, sempre bem vestida, atenta e discreta. Curioso perguntei qual a motivação dela de estar ali, ao que me respondeu: estou querendo melhorar meu português para falar melhor com os meus netos. Diante de uma resposta como esta, o meu ânimo evidente  redobrava.
Conclui, todas as matérias em um ano, com alguma dificuldade. Todos os exames, realizados na Escola Elefante Branco no Plano Piloto - o último  foi de Português, por precisar de uma nota alta no oral, fiquei por último para saber dos colegas alguma informação das questões e fazer o máximo de memorização.  Não fui tão bem como necessitava.
Acompanhei o examinador, no longo corredor  daquela escola, sendo que ao final lhe disse que estudaria  o Científico  em regime seriado para sedimentar  conhecimentos, indagando, se tinha faltado pouco para a aprovação. Tinha ido mal no escrito. Ele me perguntou se era verdade. Ao confirmar, desejou-me boa sorte, num gesto fraternal de que havia compreendido e concordava com a minha decisão, por isso me aprovou. Assim  fiz, por um ano e meio, até me transferir para São Paulo. Me dediquei aos estudos no Colégio de Taquatinga Norte, jamais esqueci este gesto de estímulo, razoável naquele momento por serem verdadeiras minas intenções. 
Passagens de minha vida distante da família dedicada a um futuro melhor. Agradeço a Deus por tudo. Que o Senhor seja louvado, para sempre louvado seja!

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