Na Trincheira do Poeta

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sábado, 4 de junho de 2016

As travessias da vida III

Contratado assim fiz: eram cinco caixas de legumes no assoalho da carroça e sobre elas, alface, couve, melancia, abacaxi, abóbora, ela saia abarrotada.

Leitor na  postagem do dia 22 último há introdução a este escrito, onde afirmo que do ginásio, após dias de apreensão  fui  direto para o serviço de servente de pedreiro.  Meu genitor que evitava nos dar tarefas de grande esforço, agora cedeu às necessidades e como o padrasto de minha madrasta era “mestre de obras” fui  parar  no colégio de padres de Brodowski, em construção.
Imagino que por uns três meses   fiz massa de reboco, carreguei latas , além das sacas de cal e cimento de cinquenta quilos.
Ante as dificuldades, propus ao meu pai que poderia trabalhar com o “Mercadinho” um senhor muito animado que viveu, até pouco tempo. Ele fazia uma algazarra em volta do carrinho,  imitava o Silvio Santos, à época com seu Baú da Felicidade em pleno vapor. Disse ao Velho que seria capaz de esvaziar o carrinho todo o dia, no vácuo da freguesia já conquistada pelo dono do negócio.
Dispondo de animal e carroça, fui autorizado, pois aos seis anos o acompanhava numa feirinha e ficava de conversa com as freguesas. Abordei o  “Mercadinho” com a argumentação de que se ele criasse um itinerário longo, em vilas boas esvaziaria o carrinho. Contratado assim fiz: eram cinco caixas de legumes no assoalho da carroça e sobre elas - alface, couve, melancia, abacaxi, abóbora, ela saia abarrotada.
E lá íamos nós pela Vila Maria, Riachuelo, Bairro da Cadeia, do Castelo, da Estação Ferroviária e Instituto de Menores, uns sete quilômetros e carroça vazia todos os dias. O  dinheiro contadinho sem qualquer resmungo. Minha parte ia para o genitor, queria mais era ajudar a família.
Narro neste momento três episódios que jamais esqueci: certo dia ao passar próximo da cadeia ouvi atrás, a uns vinte metros – abaixô!, abaixô! Abaixô!. Voltei observando, só vi um papagaio.  Fiquei com isso muitos anos entre a dúvida e a certeza, até que um dia alguém íntimo me explicou que esta ave é assim mesmo. Ouve, repete e repetirá sempre, especialmente vocábulos fácies e de sonorização na forma cantada. O refrão repetido exaustivamente era: "traga abacia dona Maria - abaixô! Abaixô! Abaixô! Temos...todas as mercadorias eram anunciadas, repetidamente.
As outras duas seguem: ao chegar ao Instituto de Menores que tinha diversos funcionários públicos, cortava a melancia maior.  A meninada assediava as mães e sempre a comercializava. Neste mesmo Instituto, fui observado de que meus dentes caninos estavam ruins e que tomate era muito bom...pensei e na féria do dia - como explico ao prestar conta e em casa quanto vai faltar?
Que o Senhor seja louvado para sempre louvado seja. Domingo uma pausa e nela refletir quais são e onde estão os valores que nos fazem felizes. Um viver justo e solidário na Paz de Cristo a mim peço e lhe desejo! Sejamos felizes. Viva a vida! 

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