Na Trincheira do Poeta

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sexta-feira, 1 de julho de 2016

Incidentes nas travessias!

Lamento pelos meus tios que me acolheram, sendo que o apoio deles fez a diferença em minha vida, veremos a frente.

Fechando o ciclo das travessias, ocorreu que o irmão mais velho da segunda família tinha três anos, quando durante um jantar apertou a mão na porta da sala e disso fui acusado. Pela minha indignada reação, meu pai conseguiu com os tios Geraldo e Nica que eu fosse para o Frigorífico dos Irmãos Orange no município de Sertãozinho.
Ficou marcada em minha memória minha tia Nica de porte franzino, vindo ao meu encontro na passagem ao lado da casa vizinha - em nossos olhos lágrimas contidas. Eu com uma mala de papelão feiosa que acomodei no quarto por ela indicado, com lugar entre os primos.
Por não ter 18 anos, livrei-me por seis meses do frio congelante da câmara fria, serviço a mim destinado. Fui então para a fábrica de frios, trabalhar entre adolescentes, assim ficamos três primos e duas mocinhas. Ali, vi como se fazia – presunto, salsicha, mortadela, linguiça defumada e outras iguarias. O Senhor Jerônimo, um tanto idoso gostava de assar corne no tampão da caldeira, a qual partilhava com todos nós, ficava uma delícia. Simpática atitude dele que compensava um ou outro destempero momentâneo.
No frigorífico, comia-se bem dizíamos. Era muita carne e com isso aprendi o valor da proteína animal, pois diminuiu muito a quantidade de alimento por mim ingerida. Além da carne a vontade, todo cozimento era com muita banha de suino, sem economia mesmo.
Ao completar dezoito anos fui para câmara fria, ali foi terrível. Serrar costela de boi das quatro horas até as onze num ambiente gelado, muito desconfortável com o risco de doença. Em conta gotas, segue episódios daqueles tempos, quando as famílias era muito solidária o que amenizou nossa situação de órfãos. Por toda vida fui grato a este gesto dos meus tios, entre 15 de dezembro e o Natal, os visitei anualmente.

Se na fábrica aprendi que o calor esvai as nossas forças, efeito sentido nos braços e pulmão, pois o carregar a estufa, perdia a força neles, assim como o fôlego era prejudicado. Do frio excessivo tinha que descansar dez minutos por hora, havia norma. Da estufa refugiávamos no banheiro para recuperar as energias, enquanto da câmara fria para ver o vergão que formava no abdômen que me intimidava.
Num intervalo destes me indispus com um carregador que usou o roupão novo indevidamente, pois tinha o dele mais velho. Em decorrência desta atitude fui despedido de um emprego pela única vez na vida. Lamento pelos meus tios que me acolheram, sendo que o apoio deles fez a diferença em minha vida, veremos a frente. Um viver justo e solidário busquemos. Que o Senhor seja louvado para sempre louvado seja. Bom domingo leitor!

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