Na Trincheira do Poeta

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quinta-feira, 25 de setembro de 2014

AVERSÃO AO PRAGMÁTICO

Temos ojeriza da ordenação de forma que o pragmático importuna.

Numa análise da concepção de vida há conjuntos de valores que decorrem também de tese filosófica, consubstanciada pela ética que os envolve de forma a dar um norte razoável e coerente ao indivíduo-cidadão.

Artigo publicado pelo autor nesta data, no Jornal Diário da Região - Catanduva


Entre as características do brasileiro está a do improviso, que consiste numa virtude pela demonstração da versatilidade ante aos obstáculos diários. Constituído de povos europeus e indígenas inicialmente, pouco a pouco se foi diversificando as nacionalidades que aqui aportaram em busca de acomodação, face às crises mundiais.
Então os pioneiros portugueses foram seguidos por holandeses, espanhóis, italianos, alemães, japoneses, árabes e os africanos, estes, antes, na condição de escravos. A imensidão territorial do nosso país, os rios, as terras férteis representam aos imigrantes fartura e liberdade. A largueza, a miscigenação, o acolhimento ao estrangeiro, a ginga e espontaneidade do negro, o repente no nordeste e assim vai. Certo mesmo que temos ojeriza da ordenação de forma que o pragmático importuna.
Porém o rito tem o seu lugar no ordenamento das coisas, o protocolo, palavra tão utilizada ultimamente, não pode ser esquecido. Em seu livro quase infantil pelo título, Saint-Exupery, o oficial aviador francês correspondente de guerra, ressalta no diálogo entre o Príncipe e a Raposa quando aquele questiona sobre a que serve ele (o rito); ela não titubeou ao responder – “Se os homens não fossem aos cultos, a que hora eu teria as galinhas”.
Ao conviver em sala de aula e na cidade com pessoas que viveram bom tempo no Japão e amigos na Alemanha, quando se fala na predisposição ao planejamento e cumprimento de ordens e preceitos sociais entre eles, constata-se que são muito diferente de nós...
Aos povos é inerente uma identidade própria, entretanto a sociedade desenvolvida requer cada vez mais a sistematização dos procedimentos a envolver os indivíduos, razão pela qual ou nos adaptamos às exigências atuais ou ficaremos cada vez mais para trás, desacreditados mesmo, amorfos.
Numa análise da concepção de vida há conjuntos de valores que decorrem também de tese filosófica, consubstanciada pela ética que os envolve de forma a dar um norte razoável e coerente ao indivíduo-cidadão; também as mais diversas religiões com seus preceitos a religar a criatura ao criador e o amparo comunitário que ameniza as agruras do viver, fazem a diferença.
Quando resistimos à prática dos costumes, na conformidade mediana das normas do grupo, nos prejudicamos por não adotar uma conduta, minimamente pragmática, seja por tradição, filosófica ou religiosa, mas aceita. Há povos que dificilmente sabemos o que querem? Este parece ser o caso do Brasil. Onde estará a nossa identidade?
Em última mão chega a notícia que as despesas nas campanhas políticas ultrapassam a vultuosa quantia de R$ 860 milhões, somente com a imprensa nacional. Até onde vamos abusar da nossa riqueza, em distribuição via gastos supérfluos e corrupção que constatamos, diariamente.

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