Na Trincheira do Poeta

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terça-feira, 2 de setembro de 2014

MANIFESTAÇÃO RACISTA

"O estímulo ao respeito individual, pautado num pensar  que faça as pessoas boas".


 A miscigenação no país foi tão intensa no final e início dos séculos 19/20 que a adaptação dos povos se dava com a maior tolerância e solidariedade que  envolvia a nova situação do negro recém libertado.

Artigo de minha autoria  publicado hoje no jornal "O Regional".






Ocorreu na última quarta feira dia 27/8, mais uma manifestação racista, sendo identificados  5 torcedores gremistas até o momento pelas autoridades gaúchas. O alvo desta vez foi o goleiro Aranha, da equipe do Santos que venceu a partida contra o Grêmio por 2x0 em pleno Olímpico. Esta atitude tem acontecido com certa frequência, também na Europa em que atletas negros são hostilizados.

As ofensas acontecem quando os clubes que jogam em seus domínios, estão com placar adverso, causa da ira da torcida que furiosa desfere o despautério, hoje criminalizado.

Vindo de uma cidade, relativamente antiga  fundada em 1839, em Batatais funcionavam, ainda nas décadas de 50/60, clubes com frequência distinta de negros e brancos. Este fato não impedia que o relacionamento no dia a dia se desse com liberdade e respeito. Na vila não distinguíamos  as pessoas pela cor.

Trabalhei em turmas na lavoura, em que não havia qualquer reserva no tratamento – era branco descascado para lá e negro beiçola para cá e assim se dava com todas as características das pessoas que  passavam pelo crivo da sátira (pesão, magricelo, filhote de gente, etc)  que aliviava o árduo labor diário.

 Tenho foto aos 17 anos em que o time era dividido igualmente entre negros e brancos. Esta naturalidade de relacionamento, foi  perdida com o tempo em face do estímulo negativo de quem a formalizou legalmente em crime.

A miscigenação no país foi tão intensa no final e início dos séculos 19/20 que a adaptação dos povos se dava com a maior tolerância e solidariedade que  envolvia a nova situação do negro recém libertado.  Oriundo de família negra, em que vários se casaram com brancos a lembrança mais restritiva vinha do trabalho como colono, pois o esforço braçal nem sempre era reconhecido com um renda condigna.

Do resto, jamais vi qualquer dos amigos  fazer alusão a questão da cor, algo impensado. Quanto aos clubes os estigmas foram se diluindo com o tempo. Toda celeuma institucionalizada quanto  ao aspecto racial tem prós e contras, parte da própria comunidade negra rejeita a proteção estatal por entendê-la restritiva à ascensão livre e independente ao ser humano pela proteção que julgam indevida.

A convivência espontânea que tive com meus amigos de infância, meus netos não terão mais. Todos que gostamos de futebol sabemos das inúmeras provocações que o Pelé recebeu durante seus áureos tempos de Santos em que tinha como companhia Durval, Coutinho, entre outros negros e jamais vimos qualquer alusão ao aspecto racial contra este time.

Infelizmente em muitas manifestações de sentimentos regredimos. A violência no futebol em geral é gravíssima, sendo a ofensa  racial abominável. Entretanto, importa mais que a lei, a elevação cultural, o estímulo ao respeito individual, pautado num pensar  que faça as pessoas boas, não por cumprir leis,  mas sim pelo amor e respeito recíproco que enseje um viver sem qualquer distinção estigmatizada por riqueza ou predicados físicos e tampouco pela proteção estatal. 

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