"O estímulo ao respeito individual, pautado num pensar que faça as pessoas boas".
Artigo de minha autoria publicado hoje no jornal "O Regional".
Ocorreu na última quarta feira dia 27/8, mais uma
manifestação racista, sendo identificados
5 torcedores gremistas até o momento pelas autoridades gaúchas. O alvo
desta vez foi o goleiro Aranha, da equipe do Santos que venceu a partida contra
o Grêmio por 2x0 em pleno Olímpico. Esta atitude tem acontecido com certa
frequência, também na Europa em que atletas negros são hostilizados.
As ofensas acontecem quando os clubes que jogam em seus
domínios, estão com placar adverso, causa da ira da torcida que furiosa desfere
o despautério, hoje criminalizado.
Vindo de uma cidade, relativamente antiga fundada em 1839, em Batatais funcionavam,
ainda nas décadas de 50/60, clubes com frequência distinta de negros e brancos.
Este fato não impedia que o relacionamento no dia a dia se desse com liberdade
e respeito. Na vila não distinguíamos as
pessoas pela cor.
Trabalhei em turmas na lavoura, em que não havia qualquer
reserva no tratamento – era branco descascado para lá e negro beiçola para cá e
assim se dava com todas as características das pessoas que passavam pelo crivo da sátira (pesão,
magricelo, filhote de gente, etc) que
aliviava o árduo labor diário.
Tenho foto aos 17
anos em que o time era dividido igualmente entre negros e brancos. Esta
naturalidade de relacionamento, foi
perdida com o tempo em face do estímulo negativo de quem a formalizou
legalmente em crime.
A miscigenação no país foi tão intensa no final e início dos
séculos 19/20 que a adaptação dos povos se dava com a maior tolerância e
solidariedade que envolvia a nova
situação do negro recém libertado.
Oriundo de família negra, em que vários se casaram com brancos a
lembrança mais restritiva vinha do trabalho como colono, pois o esforço braçal
nem sempre era reconhecido com um renda condigna.
Do resto, jamais vi qualquer dos amigos fazer alusão a questão da cor, algo
impensado. Quanto aos clubes os estigmas foram se diluindo com o tempo. Toda
celeuma institucionalizada quanto ao
aspecto racial tem prós e contras, parte da própria comunidade negra rejeita a
proteção estatal por entendê-la restritiva à ascensão livre e independente ao
ser humano pela proteção que julgam indevida.
A convivência espontânea que tive com meus amigos de
infância, meus netos não terão mais. Todos que gostamos de futebol sabemos das
inúmeras provocações que o Pelé recebeu durante seus áureos tempos de Santos em
que tinha como companhia Durval, Coutinho, entre outros negros e jamais vimos
qualquer alusão ao aspecto racial contra este time.
Infelizmente em muitas manifestações de sentimentos
regredimos. A violência no futebol em geral é gravíssima, sendo a ofensa racial abominável. Entretanto, importa mais
que a lei, a elevação cultural, o estímulo ao respeito individual, pautado num
pensar que faça as pessoas boas, não por
cumprir leis, mas sim pelo amor e
respeito recíproco que enseje um viver sem qualquer distinção estigmatizada por
riqueza ou predicados físicos e tampouco pela proteção estatal.
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