Àqueles cujos dons lhes foram facultados estarão com a burra cheia!
Artigo publicado em 25/6/14 no Diário da Região - Catanduva
CONTRASTES
DA ATUALIDADE
Há uma definição de
Luc Ferri em “A Revolução do Amor” sobre burguês do século XVIII: é aquele que
não precisava trabalhar para sobreviver, ou seja, que não pertencia às castas
elitistas, porque tem o suficiente para sobreviver com administração dos seus
bens.
Ao ver os estádios
cheios, veio à mente o comentário de que os atletas, artistas e outros
segmentos da sociedade moderna que apenas exercitam seus dons para o sucesso
que fazem “são os burgueses do momento”.
Entendi sua afirmação,
pois sou de uma geração que o futebol já encantava os jovens no Brasil pelo
destaque que sempre teve e pelas somas que os craques recebiam para fazer algo
que nos parecia prazeroso.
Pelo raciocínio, a
esperança e vontade de ter os dons de quem fazia sucesso era imenso. Filho de
caboclo que dedilhava o violão e o cavaquinho que aprendera na colônia,
igualmente um tio que ainda o faz, incluindo o acordeão, era natural pensar que
alguém da família os herdasse, pois o “cabo do guatambu” dá o alimento, mas seu
manuseio de sol a sol, é de sangrar.
Do filósofo à lógica
da vida, perpassando pela História, naquele detalhe de que ao povo “pão e circo
basta”. Oportuno observar com olhar crítico as arenas lotadas e tudo parado com
os olhares do mundo voltados para elas e constatar que o Coliseu perderia por
placar dilatado. Elas são doze.
Alegria que vai e que
vem, e as guerras continuam; o pedinte das esquinas também; os alienados pelas
drogas; a pobreza e a fome no mundo não reverte. Os atores dos jogos, 1.500 aproximadamente,
protagonizarão, em disputa, espetáculos cuja mídia transformará em paixão
momentânea a catalisar a atenção de quem não tem necessidade de trabalhar. Estes
os burgueses de ofício a desfilarem pelo mundo.
Àqueles cujos dons
lhes foram facultados estarão com a burra cheia e os profissionais envolvidos na
comunicação e esportes cada vez mais valorizados pela exploração da paixão do
humano pela competição, onde se vê representado coletivamente como integrante
de uma nação.
Que bom tivéssemos
uma competição do exercício da cidadania e outras práticas... Nas poucas que
temos mundialmente, o Brasil não aparece: Prêmio Nobel, Oscar, Universidade de
Ponta, Prêmio Unicef e outros. Concordo que pela grandeza e riqueza natural que
o país dispõe não precisamos ter complexo de vira-lata. Entretanto discordo veementemente:
de não nos indignarmos em ser campeões de mortes no trânsito, em homicídios e
reconhecidamente um dos povos mais corruptos do mundo.
Aos burgueses
esportistas, as glórias; ao comum do povo, as migalhas com o mesmo desconforto de
sempre quando se desfizer o picadeiro. A ele, pão e circo basta! É histórico, infelizmente.
A contradição vem da
atitude de quem estendeu a lona. Será mesmo trabalhador ou está mais para
burguês sindicalista? A elite deste segmento também pouco faz, a não ser greve
e agitar a massa ignara.
Tomara que o terceiro
tempo seja de mudança na política, com qualquer resultado no futebol.
José
Carlos Xavier
Coronel PM, Advogado,
Professor de Catanduva
Email: cpa.xavier@hotmail.com
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